sábado, 25 de setembro de 2010

Reflexo

A cada dia ele me surpreende ao apontar uma qualidade minha. Todos os dias ele fala alguma coisa, nos detalhes, que me faz sorrir. Ontem, ele quase fez uma lista. Mas não é aquele tipo de comentário nada a ver. Estamos conversando sobre um assunto e ele solta alguma coisa. Nessas descobertas, ele me ajuda a descobrir quem sou direito. Enxergar algumas coisas sobre mim que muitas vezes nem valorizo. Fomos num barzinho ontem. E quando saí do banheiro o vi me olhando, sorrindo com os olhos expressivos que ele tem. Dei um sorriso e voltei pra mesa. E foi quando ele falou:
- Você tem classe. Fiquei te olhando descer as escadas. Você tem classe pra andar, falar, mexer as mãos, se sentar. Classe é uma palavra que define muito você, até quando estamos num boteco, como aquele dia da feijoada.

Conversávamos sobre uma possível plástica (há seis anos fiz uma cirurgia de redução de estômago, emagreci 45 quilos, e mesmo tendo ficando bem, gostaria de mexer na minha barriga) e eu explicando que queria fazer, mas que ainda não tinha coragem, mas que eu faria qualquer dia, sim:
- Você não quer dar trabalho pra sua mãe, que teria que ficar com sua filha, vc não quer dar trabalho no jornal, porque alguém teria que ficar no seu lugar. Aliás, você não gosta de dar trabalho pra ninguém.

E ainda emendou:
- Sua segurança é sensacional. Você não tem pudor, vergonha. Transa de luz acesa, apagada, nunca ficou sem graça por estar pelada na minha frente. Vc não tem fatores limitantes.

E sim, é verdade que sou uma mulher de classe. E algumas pessoas me acham metida. Sim, é verdade que eu detesto dar trabalho para os outros, sugar, usar. Sim, é verdade que eu não tenho problema com meu corpo, que eu sou segura e que não tenhos fatores limitantes, tirando não comer cebola nem tomar refrigerante. E

Si tem sido meu espelho. Quando fala essas coisas eu paro, penso e percebo minhas qualidades. Hoje não saímos. Logo cedo fui buscar a baixinha na minha mãe e passei o dia com ela, fazendo os programas que ela gosta. Por ser pai, ele respeita e entende a importância desses momentos. Nos falamos de manhã, quando ele saiu daqui. Faz 10 minutos que ele acabou de me ligar:
- Oi amorrrr (com o sotaque mais lindo ever), precisava ouvir a sua voz antes de dormir.

Sim, até minha voz é poderosa. E só descobri isso agora, aos 36 anos.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Agora chega

Outro dia li uma entrevista da Drew Barrymore. A menina, que foi descoberta no ET, filme que marcou minha geração. Lembro exatamente do dia que eu fui ao cinema assisti-lo. Drew deu suas voltas pelo mundo, se meteu em enrascadas, mas está aí, lindona, produzindo e até dirigindo. Ela tá naquela idade (assim como eu) do foda-se. Aquela idade que a gente não tem que provar mais porra nenhuma pra ninguém. Foda-se que eu tomei um porre, foda-se se eu falo besteira o tempo todo, foda-se se eu falo palavrão. FO-DA-SE. E foi dela que veio a frase que me fez refletir sobre um monte de coisas. Um monte. Da relação com o namorado, com a família, com os amigos, o meu futuro. Tô meio cansada desse treco de viver um dia de cada vez. Não quero isso, não gosto disso. Gosto de viver a longo prazo. Quero saber o que vai acontecer na semana que vem. Me chamem de ansiosa. É assim que sou mesmo. Vivo em projeção. Namorado tá bem, sim. Mas saca quando parece que tem alguma coisa que não encaixa? É uma sensação de bosta me sentir assim, PORQUE EU SEI que vai chegar um dia desse longo prazo aí que vai dar alguma merda. Ontem tivemos a primeira discussão, talvez esteja me sentindo assim por isso. E eu não gostei da maneira como me senti. Não gostei do que falei. Do que ouvi. E aí eu me lembro da frase da Drew (minha amigona) que diz assim: Tento viver uma existência honesta. E é isso. Estou tentando viver uma existência honesta. Mas pra ser honesta de verdade você tem que olhar no espelho e perguntar: tá tudo bem mesmo ou você está tentando fazer com que fique tudo bem? E como eu tenho fugido dos espelhos, com medo de ter que fazer essas benditas perguntas, fica a dúvida.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Existência honesta

Pois é meu amigo Ailton, eu sumi. Sumi porque eu tinha esquecido o quanto namorar, se apaixonar, dá trabalho, demanda tempo, atenção. Mal ando tendo tempo pra mim, pra me escutar, pra ficar sem fazer nada nos sábados em que a filha vai pra casa do pai. Não faz dois meses que estamos juntos, então, me adapto a essa coisa toda. Ontem tivemos um domingo maravilhoso. Almoçamos com a minha amiga e com o primo (o conheci no aniversário do primo dessa minha amiga) na casa dela, que dá de frente para uma praia linda por aqui. Passamos o dia tomando cerveja, rindo, comendo... e na hora que o sol tava se pondo, eu pedi a palavra e disse olhando no olho da minha amiga, do primo, dele: Ai gente, MUITO OBRIGADA. Todo mundo entendeu e ele muito mais. Só ainda não sei muito bem como mexer nessa coisa de família, principalmente a minha. Mas logo descubro. Não viajamos. Um desfalque na equipe está me fazendo trabalhar mais e meus finais de semana ficaram muito embolados. Mas outubro tô em férias e a gente resolve isso.