sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Dos serás da vida

Não gosto de colocar as pessoas em pacotes. Portanto tento não cair naquelas armadilhas de usar os clichês do tipo: homens são todos iguais e mulheres são desse ou daquele jeito. Mas a história a seguir me deixou com a dúvida.

Conheci Sandra. Sandra tem 39 anos e faz faculdade com uma grande amiga minha. Nos identificamos. Viramos meio que amigas logo de cara, uma dessas surpresas boas da vida. Estou em férias e ontem chamei as meninas para uma cerveja na minha casa. E lá pelo final da noite, já com umas cervejinhas a mais, ela contou sua história. Sandra tem origem grega. Mas grega daquelas de verdade, morou dos 3 meses aos 11 em Atenas. Ficou no Brasil, conheceu um cara e teve um filho aos 21, e com 26 se separou. Ficou um tempo sozinha e, ainda no Brasil, conheceu um capitão de mar e guerra grego. Mais velho, vida tranquila. Deram um tempo por aqui e decidiram se mudar para Grécia. E lá foi Sandra com o filho tentar de novo. Estava tudo muito bem, eles viajavam muito e Sandra descobriu que estava grávida. "Estámos em Paris quando contei". O tal deus grego simplesmente não quis o filho, disse que não queria e pronto. A próxima etapa da viagem era a África do Sul e assim que chegaram em Joanesburgo, ele o levou a uma clínica para fazer um aborto. Resignada, ela aceitou. O casamento desandou, ela voltou pro Brasil e eles acabaram se divorciando. Sandra falava eu entendia exatamente o sentimento dessa rejeição. Porque quando um homem não quer um filho que é seu, ele não apenas te rejeita, mas ele rejeita todo um futuro, toda uma história com você.
Já passei pela situação. Quando filha era pequena, engravidei e sofri um aborto instantâneo. Perdi com três meses e já sabia que era um menino, que se chamaria Pedro e teria hoje 5 anos. Um ano depois,estava grávida de novo. Cheguei contente para contar. E R virou pra mim e friamente disse: não quero ter outro filho seu. Escutar isso é meio que levar um tiro. Você não sente direito na hora, mas depois aquilo começa a fazer estragos até dilacerar tudo. Resolvi fazer o aborto nem sei bem direito o porquê. Mas fiz e ainda de forma irresponsável, tomando citotec. Não vou ficar aqui entrando no mérito de que é errado, que eu deveria ter continuado grávida porque o objetivo não é esse.
Sandra e eu com histórias parecidas e muitas outras mulheres também devem ter ouvido o que nós ouvimos, essa parte humilhante dos relacionamentos. E depois disso eu posso concluir com serenidade que alguns seres humanos são, realmente, iguais. Eu e Sandra. Meu ex e o ex dela. Dois homens parecidos e duas mulheres expostas à mesma dor. Coincidência ou questão de gênero, que eu tanto tento evitar?

2 comentários:

.ailton. disse...

que punk! mas não acredito que sejam todos iguais. uns são mais iguais que os outros.

Anônimo disse...

Essa pelo menos eu nunca tive de ouvir de homem nenhum, mas imagino como você deve ter ficado arrasada.