domingo, 31 de outubro de 2010

Fuga

Tive um surto no começo da semana. Mas um surto daqueles, de não querer ver ninguém, falar com ninguém. Filha tava na casa do pai, última semana de férias, peguei uma mala, enfiei umas roupas e fui pra Piracicaba. Casa do amigo do amigo. Não levei note, não fui na lan house e só avisei na rodoviária pro moço que eu estava indo. Precisava respirar, sabe? Colocar a cabeça no lugar, ficar em silêncio, me ouvir. Ele ficou puto, obviamente. Me ligou todos os dias, querendo saber o que estava rolando.
- Eu não sei, não tenho respostas. Quando eu encontrar te ligo.
Cheguei sexta e ainda não conversamos direito. E sinceramente? Não sei nem se quero ter a tal conversa.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

A gente vai levando?

Eu preciso saber a opinião de alguém sobre um assunto que vem me incomodado. Depois de um certo tempo, de uma certa idade, de porradas em relacionamentos anteriores, a gente não se apaixona mais? Aquele lance das borboletas no estômago deixam de existir? É isso mesmo ou o problema é comigo? Porque eu estou há três meses nesse relacionamento. Adoro estar com ele. Amo, diria. Nos falamos, nos cuidados. Hoje, por exemplo. Estou em férias e passamos a tarde em casa. Foi delicioso. Mas falta. Falta alguma coisa que nem eu mesma sei o que é. Não sei se é encanação minha, se é o dia. Ele mesmo me achou calada...
Eu sempre fui uma pessoa de paixões avassaladoras. As pessoas importantes, que marcaram minha vida, entraram como furacões. E, claro, saíram com a mesma velocidade. Com ele não foi assim. Nos tornamos meio que amigos, o interesse foi crescendo até que bem, aconteceu. Mas às vezes parecer que falta algum molho, algum extra. E eu ainda não sei bem direito o que é. Enquanto não descubro vou apostando, vivendo, dando risada, sendo amada e cuidada. Porque eu tava precisando de tudo o que ele tem me oferecido até agora.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Ausência

Porque de todas as ausências a daquele dia foi a mais sentida. Por instantes intermináveis nos perdemos e não sabíamos mais quem éramos, o que acreditávamos ser real, o que sentíamos. De uma hora para outra, fomos parar num labirinto de pensamentos confusos e desconexos e, desnorteados, procuramos pela saída. Aquela que deixaria tudo como antes e traria a paz que encontramos e estabelecemos como nossa, graças à nossa história. Foi tanta saudade que fez doer e fez chorar e fez escurecer o que era para ser um dia com a mais completa felicidade. E hoje, quando esse dia triste já havia acabado, rimos e sorrimos juntos, ainda meio acanhados, por quase nos perdermos em devaneios sem o menor sentido. Ao percebermos nossas vozes calmas e que a agonia tinha ficado lá atrás, tivemos a certeza de que não queremos sentir nunca mais o gosto amargo das incertezas.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Dos serás da vida

Não gosto de colocar as pessoas em pacotes. Portanto tento não cair naquelas armadilhas de usar os clichês do tipo: homens são todos iguais e mulheres são desse ou daquele jeito. Mas a história a seguir me deixou com a dúvida.

Conheci Sandra. Sandra tem 39 anos e faz faculdade com uma grande amiga minha. Nos identificamos. Viramos meio que amigas logo de cara, uma dessas surpresas boas da vida. Estou em férias e ontem chamei as meninas para uma cerveja na minha casa. E lá pelo final da noite, já com umas cervejinhas a mais, ela contou sua história. Sandra tem origem grega. Mas grega daquelas de verdade, morou dos 3 meses aos 11 em Atenas. Ficou no Brasil, conheceu um cara e teve um filho aos 21, e com 26 se separou. Ficou um tempo sozinha e, ainda no Brasil, conheceu um capitão de mar e guerra grego. Mais velho, vida tranquila. Deram um tempo por aqui e decidiram se mudar para Grécia. E lá foi Sandra com o filho tentar de novo. Estava tudo muito bem, eles viajavam muito e Sandra descobriu que estava grávida. "Estámos em Paris quando contei". O tal deus grego simplesmente não quis o filho, disse que não queria e pronto. A próxima etapa da viagem era a África do Sul e assim que chegaram em Joanesburgo, ele o levou a uma clínica para fazer um aborto. Resignada, ela aceitou. O casamento desandou, ela voltou pro Brasil e eles acabaram se divorciando. Sandra falava eu entendia exatamente o sentimento dessa rejeição. Porque quando um homem não quer um filho que é seu, ele não apenas te rejeita, mas ele rejeita todo um futuro, toda uma história com você.
Já passei pela situação. Quando filha era pequena, engravidei e sofri um aborto instantâneo. Perdi com três meses e já sabia que era um menino, que se chamaria Pedro e teria hoje 5 anos. Um ano depois,estava grávida de novo. Cheguei contente para contar. E R virou pra mim e friamente disse: não quero ter outro filho seu. Escutar isso é meio que levar um tiro. Você não sente direito na hora, mas depois aquilo começa a fazer estragos até dilacerar tudo. Resolvi fazer o aborto nem sei bem direito o porquê. Mas fiz e ainda de forma irresponsável, tomando citotec. Não vou ficar aqui entrando no mérito de que é errado, que eu deveria ter continuado grávida porque o objetivo não é esse.
Sandra e eu com histórias parecidas e muitas outras mulheres também devem ter ouvido o que nós ouvimos, essa parte humilhante dos relacionamentos. E depois disso eu posso concluir com serenidade que alguns seres humanos são, realmente, iguais. Eu e Sandra. Meu ex e o ex dela. Dois homens parecidos e duas mulheres expostas à mesma dor. Coincidência ou questão de gênero, que eu tanto tento evitar?

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Taxa de embarque

Escutei uma frase da mãe de uma amiguinha da filha: você vive com as malas prontas. É isso. Estou sempre pronta pra ir embora, pra dizer que não quero mais, que acabou. Estou sempre pronta pra ouvir que ele não quer mais, que acabou. Não quero que ele conheça meus defeitos. Não quero que ele saiba que estou na TPM e que fico chorona e sem graça. Que não sou aquela Querida legal e palhaça que ele conheceu. Outro dia tive uma crise de enxaqueca tão forte que tive que ir pro PS tomar remédio. Ele me levou, me buscou. Não quero que ele saiba nada disso. Não quero que ele saiba que apareceu um cisto no ovário direito e que eu já fiz 3 ultra-sons pra confirmar mesmo. Não quero que ele saiba que dia 21 eu vou na médica e que vamos ver o que precisará ser feito. Não quero que ele saiba muita coisa além do que eu quero mostrar. Tenho medo. Estou apavorada e pronta pra fechar minha mala e sair.