terça-feira, 29 de setembro de 2009

Núcleo

Então, o nome dele é Paulinho. E o Paulinho está na minha vida há 16 anos. Sou amiga do irmão dele, o Vítor, que conheci por outro amigo, o Fernando, que acabou se afastando da minha vida, mas que deixou o Vítor, que mesmo morando no Rio, está sempre por perto. Paulinho tem 50 anos, corpo de 40 e cabeça de 30. É advogado e já foi casado duas vezes. Na primeira cerimônia, by the way, eu estive lá, ouvindo sua ex-mulher abraçar os convidados ao som de Beatriz. Emocionante, diga-se de passagem. Encontrei Paulinho há coisa de um mês, no velório do pai da Mônica, que é amiga do Vítor e também virou minha amiga. Conversamos muito, ele me deu uma carona para o trabalho e i see you soon. Sábado teve aniversário do Vítor e eu fui. Levei um amigo, o Felipe. Paulinho passou a festa toda me olhando até que perguntou se eu tinha alguma coisa com Felipe e eu respondi que não, que éramos amigos. Frequento aquela casa há muito tempo, tanto que seu Paulo e dona Marta, são para mim, o tio Paulo e a tia Marta. Além de Vitor e Paulinho, conheço José e Pedro, os outros irmãos. Já estive em pós Natais e Réveillons, Carnavais e churrascos incríveis naquela casa, que será derrubada para dar lugar a um prédio de alto padrão. Uma hora fui na cozinha e Paulinho foi atrás. Me deu um beijo e eu retribuí. No domingo, liguei pra Paulinho e ele foi pra praia, ao meu encontro. Passamos um domingo muito legal, rindo, bebendo e até vimos o pôr-do-sol juntos, nas muretas da praia. Paulinho conheceu um ex-namorado meu e meu ex-marido. Conhece minha filha, minha mãe e meu irmão. Hoje já nos falamos três vezes. Conheço bem Paulinho. E é justamente isso o que me preocupa. Conhecer bem Paulinho.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

No sul de Minas

Fui pras montanhas no final de semana. E enxergar o horizonte sob a perspectiva que não a do mar me fez muito bem. Aquela Serra da Mantiqueira me ajudou a desfazer alguns nós e a decidir caminhos certos pra essa vida, que se tornou uma confusão das grandes. E admitir que eu não estou pronta - como achei que estivesse - pra abrir minha vida. Porque nem sempre o que a gente acha e quer compreenda à realidade do que o destino, o tempo, ou sei lá, pretendem pra nós. E foi bom viajar porque além disso, eu fui naquelas molezinhas da profissão e não gastei quase nada, a turma era divertidíssima, fiz programas radicais, ri horrores e até tive uma noite romântica no chalé charmoso com lareira com o coleguinha jornalista fofo de 28 anos depois do "desagradável" jantar regado à vinho de diversas nacionalidades e foundue de queijo, carne e frutas.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Takes

- Eu não consigo, ela afirma.
- Tenta, por favor, ele pede.
- Não dá. Falta pele. É química do corpo, ela justifica
- Eu te amo, ele insiste.
- Eu não. Vá embora, por favor, ela encerra.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Ao quadrado

Era como se fossem duas vidas. A do lado de cá e a do lado de lá. Cada vez que cruzava a fronteira fazia figa para não encontrar ninguém do lado de cá no lado de lá. Nem sempre era possível e quando isso acontecia mal sabia como agir.
No lado de lá, era uma. Tinha um namorado, amigos e, sentada à mesa de um boteco de quinta categoria, falava de histórias da vida do lado de cá. Histórias de sucesso, de viagens, com finais sempre felizes. No lado de cá, era outra. Profissional talentosa, brilhante e cheia de frescuras. De vez em quando, contava detalhes dos amigos do lado de lá, que viravam colegas, e omitia que passava noites insones no tal botequinho.
No lado de cá, era cortejada por homens inteligentes, que faziam questão de ressaltar suas qualidades de mulher forte e indepentende. Alguns até faziam poesias pra ela.
No lado de lá, namorava um segurança que dizia que a amava e fazia planos para se casar até o final do ano.
E, sem saber qual das duas escolher e não querendo misturar nenhuma dessas vidas, decidiu jogar tudo para o alto e viver uma terceira vida. Bem longe desses limites.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Caramba...

O que significa quando, numa mesma semana, que por aqui foi bem curta, já que terça rolou feriado local e tudo só começou efetivamente na quarta, acontece tudo isso?


Um sujeito que diz que é apaixonado por você há um ano - isso mesmo - que te vê sempre, que conhece praticamente tudo da sua vida, que acha sua filha linda, que é louco pra te conhecer, que isso, que aquilo, e que te faz a seguinte proposta:
Moro num apartamento de um quarto, mas vou montar um de dois. Vocês vêm morar comigo?

O seu melhor amigo manda um torpedo dos mais surreais - que você não responde - e depois te fala no MSN:
- Ainda bem que você não respondeu porque eu tava louco pra te ver e não ia prestar a gente se encontrar.

O cara com quem você quase se casou há dez anos e mora em Porto Alegre te manda um e-mail.
- Devo ir pra São Paulo mês que vem e quero te ver de qualquer jeito.

O havaiano chega ao Brasil e aparece no seu local de trabalho:
- Tô aqui embaixo, desce pra tomar um café.


a) Você é muito gostosa, tá podendo e sua pomba gira tá de frente, enfeitiçando todos os homens do planeta.
b) Sua vida emocional/sentimental é uma bagunça
c) Você precisa de férias da raça porque no fundo são todos iguais.
d) É hora de ir pra um convento.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

O abraço

Sabe Bebel, eu acho que eu você vivemos fenômenos semelhantes. Por mais que a gente tente, queira e se esforce - e que os outros façam isso na mesma proporção - nunca, nada vai ser suficientemente bom quanto o que tivemos. Nunca nos levará às pessoas que éramos com eles. Você, com seu David, a quem a vida levou sabe-se lá porquê, e eu, com meu ex-marido, que quis ir. Temos um nível alto demais, queremos o impossível: alguém que seja maior do que isso e que cause na gente o que eles causaram. Acho que nenhum homem será igual a eles. Não melhor no sentido de ser um homem melhor, mas por nos permitir que fôssemos mulheres sensacionais e inteiras quando estávamos ao lado deles. Não sei quanto a você, Bebel, mas eu via nos olhos dele que não havia julgamento, desconfianças, temores. Ele esteve lá enquanto esteve, me apoiando, ajudando, levantando, abraçando e tantas e tantas coisas. Era uma cumplicidade louca e até meu egoísmo ele entendeu. Quando o amor dele por mim acabou e levou tudo isso de bom, só restou que ele terminasse com dignidade e respeito, como tem que ser. Hoje, o acho um filha da puta, uma merda de homem, um pai nojento e de quinta categoria, e é esquisito pensar que um dia ele foi tão legal, tão maravilhoso e preencheu todos os espaços. Ao contrário de você, Bebel, eu tenho medo da solidão e o fato de ter uma filha não me acalma nenhum pouco, pois sei que logo ela estará aí, no mundo, e é pra isso que eu a crio. Ao mesmo tempo, eu gosto muito da minha companhia, das minhas escolhas individuais e de resolver a minha vida sem pensar em nada nem ninguém. E isso é praticamente impossível fazer com alguém do nosso lado. Talvez, o que não queiramos mais é dividir. Nosso egoísmo não permite. Até agora, a única pessoa que aceitou esse meu sentimento e deixou que eu o tivesse sem nenhuma crise foi ele. Para os outros homens, ele incomodava e a reboque eu acabava me incomodando também. E na boa, tudo o que eu não quero, é ter que pensar que quem eu sou pode, de alguma maneira, incomodar alguém.