terça-feira, 26 de julho de 2011

Ele se foi

O Neném morreu. E só soube hoje, passados quase 15 dias. Quem me acompanha deve lembrar do meu primeiro blog, o Saia Plissada, e daquele meu relacionamento com um caminhoneiro. Aquele cara, totalmente fora do meu círculo social, intelectual, mas que teve um papel transformador imenso em minha vida. Aquele cara, que quando a gente saía, pedia duas garrafas de cerveja, uma de Brahma e outra Kaiser, porque eu só tomava Brahma e ele, Kaiser. Aquele cara que fazia eu ir com meu carro até minha casa, deixá-lo na garagem, para ir me buscar porque "mulher minha" não gasta combustível ou então levava fazia eu ir até o posto onde ele abastecia o caminhão para encher o tanque do meu carro quando saía comigo. Aquele cara que me chamava de Neném, que me colocova lá em cima e que, apesar do abismo que havia entre nós, nunca teve medo de ser quem era. Pra ninguém. Nos afastamos depois de um tempo mas nunca deixamos de nos gostar. Lembro direitinho da última vez que estivemos juntos, há uns dois anos. Estive perto de sua casa e nos encontramos por acaso. Conversamos rápido, ele me beijou (na boca) e eu dei o cartão do novo trabalho. Numa quase inocência, beijou o cartão, todo orgulhoso com minha nova colocação. Dias depois me ligou e estava feliz. Havia voltado com a esposa, que estava grávida do terceiro filho. Neném tinha sido preso no passado por tráfico, perdeu tudo. Mas reconstruiu a vida, sua história, a história da família, trabalhando duro como caminhoneiro. Quando o conheci, ele acordava às 4h30 e ia dormir sabe-se Deus a que horas. Era um homem feliz. Por obra do destino tínhamos o mesmo sobrenome. O meu com y e o dele com i. Neném morreu de repente. Segundo esse cara que o conhecia e a quem encontrei hoje e me deu a triste notícia, ele teve uma dor, foi internado e no dia seguinte morreu. Talvez tenha sido uma apendicite, um enfarto. Liguei pro número da casa que mantinha no meu celular, procurando respostas. Só ouvi "não foi possível completar sua chamada". Queria falar com a dona N, que me chamava de filha e que sempre me agradeceu por aceitar o passado do filho dela e acreditar que ele poderia fazer um futuro diferente. Nunca duvidei da capacidade do Neném, um homem inteligente, doce e terno, que não se deixou endurecer pela vida. Neném faria aniversário no dia 8 de agosto, 37 anos. Estou triste, muito triste. Acho que ele nunca soube disso tudo, do quanto ele foi importante e especial. Até porque Neném não era muito desses papos cabeça. Lembro daquele sorrisão, da risada solta, da pele morena clara, dos cabelos morenos e dos olhos quase pretos, principalmente desses olhos. Inesquecíveis, como no dia em que fomos apresentados, depois de um jogo do Brasil na Copa de 2006, quando ele esticou a mão direita e disse: "Muito prazer, eu sou C". Que Neném fique em paz, com meu amor.

Um comentário:

.ailton. disse...

a dor é imensa quando perdemos amigos queridos. paz pra ti.