segunda-feira, 12 de abril de 2010

Doeu

Hoje eu desabei. Minha amiga de 35 anos está com câncer. Quer dizer, ela já está sem o nódulo maligno e livre do câncer. Mas por causa dele está fazendo quimioterapia. E hoje foi sua segunda sessão. E eu caí porque fui buscá-la e ao vê-la ali, tão frágil, já careca, sentada com aquele mendicamento na veia, me senti muito triste. Claro que ela não viu e eu sorri como sempre.
Enquanto esperava por ela na recepção tive um acesso de choro. Chorei tanto que a menina foi me buscar um copo de água e apertou minha mão como se disesse: tenha calma, ela vai ficar boa.
D é uma de minhas melhores amigas. Somos quatro amigas tão unidas que vamos à mesma ginecologista e três de nós, as que têm filhos, a escolheram. Eu fui a primeira. Tarsa, a segunda, e D., a última. Das quatro, D. é a que tem o sorriso mais fácil. A que quase nunca chora.
Quando me separei, em 2005, e ligava pra ela aos prantos por sentir que as paredes daquele apartamento iam me engolir, ela falava: vem pra cá com a F (a filha). E eu ia e eu chorava, e ria.
Desde o ano passado acompanho de perto o cisto que virou nódulo e que era um câncer. Na primeira ultrassonografia eu tava lá. Quando o médico disse que era só um cisto e que daqui a seis meses ela repetisse o exame, tb.
Quando ela fez o exame de novo e foi no médico de novo, eu não fui junto. Mas no dia da biópsia eu tava lá. E quando saiu o resultado e ela me ligou e pediu, olha no google, "carcinoma ductal invasivo grau II", eu só disse: fique parada aí, estou indo te encontrar.
Ao lado dela eu também ouvi o mastologista falar que ela teria que operar de novo para tirar 1/4 da mama e que talvez não conseguisse preservar o bico e ainda mexer na axila.
E nesse dia, que ela entrou no hospital, achando que ficaria com o peito feio, eu tava lá, falando as nossas besteiras de sempres, mas percebendo seu nervosismo ao pegar na sua mão gelada.
No dia que ela voltou ao mastologista e que ele contou que tinha preservado o bico, mas esvaziado a axila e que a radioterapia não adiantaria e ela teria mesmo que fazer quimioterapia eu tava lá.
E no dia que fomos à oncologista eu segurei forte sua mão quando a médica disse que ela teria de fazer a quimio mais forte, a tal da vermelha, que faz o cabelo cair logo na primeira sessão.
E quando ela voltou à oncologista pra ela passar a egunda sessão de quimio, eu fiz questão de ir junto, porque a médica demora uma eternidade para atender e não queria que ela se sentisse sozinha.
Enfim, eu tô do lado dela e esse tempo todo eu me mantive firme. Com meu humor, meu escracho, levando esmaltes, cremes, bolos e toda a alegria que eu tenho. Só que hoje bateu um medo, muito medo, de perder a minha amiga. Porque hoje, depois de muito tempo, eu não pude ligar pra ela e chorar. Porque agora é a vez dela desabar quando precisar. E eu tenho que estar forte para se isso acontecer.
E ai eu liguei pra Tarsa e pra Shirley e pedi socorro a elas, pra que elas me ajudassem a ficar forte, de novo, para D. Porque nessas horas só o amor é capaz de te deixar inteira.
E é assim que me sinto depois de cair. Em pé, pronta pra D.

Um comentário:

Bebel disse...

Ai aquela velha e diabólica doença! Força e muita sorte pra você. Essas são as coisas realmente importantes da vida. Um carinha que não nos ama do jeito como gostaríamos, vai um dia passar e até podemos chegar a esquecer seu nome. Mas isso aí, isso é vida em sua mais terrível expressão. Guarde suas forcas pra ela, todas.