Quando ele disse tchau, até mais tarde, ela soube que nunca mais o veria. Sentiu em seus olhos que se tratava de uma despedida. Ainda era muito cedo e ela voltou para cama, toda bagunçada. Acabou sonhando com aquela noite da qual pouco se lembrava.
Assim que o viu chegando no bar teve certeza de que precisava saber qualquer coisa dele. Sorriu. Sem nem perceber como, estava sentada à mesa dele, que enchia o seu copo com cerveja barata. Não gostou das gírias, do vocabulário atrapalhado e da absoluta inexistência de concordâncias. Engraçado ele é, pensou, já totalmente fascinada. E foi quando Júnior contou sua história. O fato de ter nascido em São Sebastião explicava o tom de pele curtido, mas aquele olhar... para isso ainda não existia a palavra perfeita. Júnior nem perguntou o nome dela, muito menos o que ela fazia. Nas poucas vezes em que conseguiu interrompê-lo disse algumas coisas e, ao contrárido do que habitualmente acontecia, foi simplesmente ignorada. Já ele falava orgulhoso da vida de embarcado e do fato de conhecer as mais belas paisagens do litoral brasileiro levando o patrão endinheirado, dono de uma rede de supermercados no Rio de Janeiro, no iate de três cômodos. Fez promessas de passeios. Jurou amor eterno. Planos para o dia seguinte, para os próximos dias que viriam e até para o Carnaval. Já na casa dela, Júnior confidenciou que fazia dois anos que não saía com nenhuma mulher e era madrugada quando ele disse que não se achava um homem interessante. E foi a partir disso, quando ela acreditou em todas essas mentiras, tiveram uma daquelas memoráveis e irresponsáveis noites. Ela não conseguia parar de olhar aquele corpo perfeito, a barriga e o peito lisos do cara de 31 anos. Mas o que a deixava mesmo espantada eram os absurdos olhos. Na hora em que mais uma vez eles se cruzaram teve vontade de dizer: estou apaixonada. Sabia que não poderia ir tão longe. E mesmo tendo certeza absoluta de que nunca mais o veria, na suposta hora marcada, ela estava lá, segurando um copo, sentada à (mesma) mesa. Desta vez, sem sorrisos ou olhares.
sexta-feira, 7 de maio de 2010
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Um comentário:
ai os olhos...
agora, 31 anos e 2 anos sem mulher? esquisito isso.
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